O Programa de Pós-Graduação em Medicina Preventiva foi criado junto ao Departamento de Medicina Social da FMRP-USP em 1971, sendo o primeiro Curso de Pós-Graduação “stricto sensu” do Brasil nessa área do conhecimento. A criação desse Programa foi fortemente inspirada pela trajetória do fundador do Departamento, Prof. José Pedreira Lima de Freitas, cujas investigações científicas relativas à Moléstia de Chagas contribuíram de maneira significativa para a erradicação dessa doença em todo o continente americano. Por esse motivo, à época, o foco do Programa era o formar professores e investigadores médicos com foco no “preventivismo”, e equipados com ferramentas da epidemiologia e da estatística.

Em 1979, paralelamente à criação da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), o programa ampliou seu foco de atuação passando abordar o entendimento dos determinantes sociais das doenças e inaugurou uma linha adicional de pesquisa voltada para o Planejamento e a Gestão em Saúde.

Nessa primeira fase de sua história, o Programa formou professores e pesquisadores produzindo contribuições científicas originais em relação à Doença de Chagas e outras cardiopatias, tuberculose, hanseníase, mortalidade materna e perinatal, desnutrição, entre outros temas de grande relevância social. Também desenvolveu e aplicou técnicas de aplicação de inquéritos domiciliares, que se mostraram extremamente úteis na avaliação de morbidade populacional.

Nos anos de 1997 e 1998, o Departamento de Medicina Social perdeu substancial parte de seus docentes devido a aposentadorias e falecimentos. Paralelamente, o interesse da classe médica pela residência em sanitarismo vinha em decadência, o que levou à necessidade de reformulação do Programa.

Nessa mesma época, ganhava força no Brasil o então Programa de Saúde da Família, criado pouco antes, em 1994. Foi então que o Departamento de Medicina Social decidiu ingressar na defesa desta causa, o que culminou com a extinção da Residência em Medicina Preventiva, a criação da Residência em Medicina de Família e a reformulação da pós-graduação, que passou a ter uma abordagem mais interdisciplinar e mais voltada à Atenção Primária à Saúde.

Por essas razões, o Programa passou a ser denominado Programa de Pós-Graduação em Saúde na Comunidade, a partir de 2001. Inicialmente contando apenas com o mestrado acadêmico, a partir de 2010, também o curso de doutorado foi aprovado pela Universidade de São Paulo e pela CAPES.

Nessa segunda fase da história do Programa, além das tradicionais linhas de pesquisa e formação em epidemiologia das doenças infecciosas, estatística, e planejamento em saúde, agregaram-se outras, em consonância com o fenômeno da transição demográfica e epidemiológica pela qual o Brasil e outros países em desenvolvimento vinham atravessando. Assim, o envelhecimento da população, o aumento da prevalência e mortalidade por doenças crônicas, da incidência e mortalidade por neoplasias e causas externas, a expansão das infecções hospitalares e da resistência microbiana conduziram o Programa a inaugurar linhas e projetos de pesquisa voltados ao entendimento e enfrentamento de cada uma dessas condições. Destacaram-se nesse período contribuições científicas originais relativas ao entendimento, prevenção e controle da obesidade, do diabetes mellitus, dos acidentes de trânsito, das más condições de parto e nascimento, do envelhecimento e condições associadas, das pneumonias hospitalares, e também relativas ao desenvolvimento de ferramentas Bayesianas de avaliação estatística, e à implantação e avaliação da Estratégia de Saúde da Família.

Mas como o Brasil ainda não havia completado sua transição epidemiológica, nessa segunda fase de sua história o Programa não esmoreceu no estudo e enfrentamento dos velhos problemas de saúde com que ainda hoje convive, como a tuberculose, as arboviroses, as hepatites virais, a diarreia aguda infantil, baixa cobertura vacinal, entre outros. Nesse aspecto, coube a um orientador do Programa a implantação em nível nacional da estratégia de tratamento supervisionado da tuberculose (estratégia DOTs), que muito vem contribuindo para a redução da incidência e mortalidade dessa doença no país.

No ano de 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) conjuntamente com os 193 estados membros lançou publicamente os 17 “Objetivos do Desenvolvimento Sustentável” (ODS), compreendendo 169 Metas a serem perseguidas por todos os países, na busca por um mundo mais saudável, justo, seguro e sustentável até 2030.

Entendendo que todos os 17 ODS permeiam o setor saúde e que um deles, o ODS nº 3, é especificamente vinculado à metas de saúde, o Programa decidiu em 2017 dedicar-se a contribuir para o alcance desses objetivos e metas.

Ainda em 2015, o Departamento de Medicina Social foi selecionado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), entre vários proponentes, para sediar o Centro Regional de Treinamento em Pesquisa de Implementação da OMS para as Américas. Por esses motivos, a partir de 2017, o foco do Programa passa a ser a interface existente entre os ODS (especialmente o de nº 3), a Estratégia de Saúde da Família e a pesquisa de implementação. Ou seja, estamos focados em contribuir para a implementação das metas preconizadas pela ONU/OMS, com ênfase àquelas pertinentes à atenção primária à saúde.

A ideia central desse movimento não é exatamente o de criar novas intervenções em saúde, mas sim compreender por quê intervenções sabidamente efetivas não são aplicadas, especialmente nos países menos desenvolvidos, e desenvolver e testar novas estratégias para a implementação dessas medidas. Esperamos dessa forma contribuir para reduzir o imenso abismo existente ente o que se sabe ser efetivo e aquilo que realmente se pratica em saúde.

Com isso o Programa de Pós-Graduação Saúde na Comunidade inaugura uma nova fase de sua história, alicerçada na sua raiz social local, e ao mesmo tempo sintonizada com o desafio global de prover acesso universal e ampliado à saúde, com qualidade e equidade. Para ser consistente com essa nova postura, o Programa decide em assembléia com seus orientadores passar a usar a denominação Programa de Pós-graduação em Saúde Pública.